Manuel Teixeira Gomes faleceu há 72 anos, 9 anos depois os seus restos mortais foram trasladados para Portimão.

Assinala-se hoje a efeméride dos 72 anos da morte de Manuel Teixeira Gomes e os 63 anos da trasladação dos seus restos mortais. Da colectânea "O Algarve na Obra de Teixeira-Gomes" publicamos um excerto do livro "Manuel Teixeira-Gomes - uma personalidade singular" " O governo da ditadura, com autorização de familiares, transferiu os restos mortais de Teixeira-Gomes para Portimão em 18 de Outubro de 1950, nove anos depois da sua morte. À revelia da vontade expressa pelo próprio Teixeira-Gomes a Norberto Lopes, quando lhe disse: «Viu que lindo cemitério! [referia-se ao cemitério de Bougie]. Deve ser uma consolação ficar ali – mas com a certeza de que não nos vão lá incomodar» (vide O Exilado de Bougie, pág. 272). Foi o navio da marinha de guerra portuguesa, Dão, que o trouxe à Pátria, tendo a tripulação e outras forças militares de terra prestado as honras militares da praxe. Nem o Presidente da República, nem o Presidente do Conselho se deram ao trabalho de estar presentes. O Governo foi representado pelo ministro do Interior, Eng.º Cancela de Abreu. Acompanhei, nesse dia, o professor Mário de Azevedo Gomes, que era então a figura cimeira da oposição ao regime, ao Algarve, com a intenção de assistirmos à cerimónia da transladação de Manuel Teixeira-Gomes. Pessoalmente, tanto o Gustavo Seromenho (que guiava o carro, do meu pai, em que nos deslocávamos) como eu, não pudemos presenciar o acto, devido a uma inesperada avaria do automóvel, no alto da Serra de Monchique. Mas Azevedo Gomes, Maria Isabel Aboim Inglês e Ramos da Costa puderam, apesar da avaria, estar presentes, juntando-se a outros oposicionistas, vindos de todo o país, como Câmara Reys, director da Seara Nova. O Governo queria fazer uma cerimónia meramente formal, anódina, retirando-lhe todo o conteúdo político. Não o conseguiu. Câmara Reys, invocando a qualidade de editor de Manuel Teixeira-Gomes, tomou a palavra, sem que ninguém lha desse – nem era necessário – discursando com a finura, a ironia, a emoção de amigo e a audácia que lhe eram peculiares. O ministro retirou-se ostensivamente, com a delegação oficial. Houve vivas à República e à Democracia, como era imprescindível. A polícia política interveio e fez os estragos habituais… No número da Seara Nova, dedicado a Teixeira-Gomes, de 11 de Outubro de 1950, que consultei, há artigos de Mário Azevedo Gomes, «Apontamentos acerca da intervenção de Teixeira-Gomes na política portuguesa» (Azevedo Gomes fora ministro da Agricultura no Gabinete presidido por Álvaro de Castro e, nessa qualidade, contactou várias vezes com o Presidente Teixeira-Gomes, podendo assim testemunhar sobre a importância da sua acção); de Rodrigues Lapa «Um artista de raça»; de João de Barros, «A personalidade de Teixeira-Gomes»; e de Castelo Branco Chaves, «Teixeira-Gomes, artista anti-romântico». Mas não há uma referência à cerimónia nem ao discurso do director da Seara Nova, Luís da Câmara Reys. Et pour cause: a censura cortou toda e qualquer referência ao acontecido. Como se a homenagem dos amigos e admiradores de Teixeira-Gomes não tivesse existido. O que comprova – se fosse necessário – que o legado político de Teixeira-Gomes estava vivo e que o regime ditatorial continuava a temê-lo. Mesmo depois de morto!” 15 de abril de 2001 In Mário Soares – Manuel Teixeira-Gomes – Uma Personalidade Singular

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